Poucas coisas são mais pessoais do que a decisão de começar uma família. E poucas situações podem fazer com que alguém se sinta mais sozinho e infeliz do que quando o bebê tão desejado não vem.
É muito importante compreender que a infertilidade é resultado de um funcionamento anormal do sistema reprodutivo masculino e/ou feminino. “A infertilidade é um problema importante para 1 em cada 8 casais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Para estas pessoas, a experiência da infertilidade envolve muitas perdas ocultas. Perdas que afetam o casal, seus entes queridos e a sociedade como um todo. Como a infertilidade envolve frequentemente grandes questões da vida pessoal, muitas vezes, ela é percebida apenas como um assunto privado, que não deve ser discutido em fóruns públicos”, afirma a médica ginecologista e obstetra, Amanda Volpato, da Clínica Hope.
Até pouco tempo atrás, a jornada para a concepção era classificada como tema tabu, junto com aborto, menstruação e câncer… Portanto, raramente era discutida em público. Hoje em dia, com a disseminação das tecnologias da informação, infertilidade e concepção assistida estão sendo debatidas publicamente, inclusive, nas redes sociais.
Internet como campo de expressão
Recentemente, a atriz, Anne Hathaway, usou o anúncio de sua segunda gravidez no Instagram para sugerir que seu caminho para a maternidade não foi fácil: “… para todos que estão passando pelo ‘inferno de infertilidade’, saibam que nunca encontrei uma linha reta para qualquer uma das minhas gravidezes. Envio para vocês amor extra”, ela escreveu ao lado de uma foto mostrando a barriga.
Assim, como Anne Hathaway, a cantora australiana, Natalie Imbruglia, compartilhou no seu Instagram, a notícia de que está grávida de seu primeiro filho, aos 44 anos, após recorrer à doação de esperma e à FIV.
Os dois anúncios geraram uma grande quantidade de felicitações, mas também abriram espaço para que as internautas passassem a compartilhar nos comentários suas próprias dificuldades para engravidar, mostrando que as duas não estavam sozinhas em suas confissões sobre as dificuldades para conceber.
A mudança proporcionada pela Internet
Durante muito tempo, revistas e jornais sobre celebridades de Hollywood estamparam mulheres, na faixa dos 40 anos, tendo gêmeos, trigêmeos… Mostrando apenas a vitória, o sucesso do tratamento de infertilidade. Uma perspectiva distante da realidade. Algo compreensível quando pensamos nas razões que levavam uma atriz de Hollywood a não ir a público falar sobre sua reserva ovariana ou seu tratamento de fertilização in vitro, pois isso remeteria a questões como seu próprio envelhecimento, em meio a uma indústria que valoriza exaustivamente a juventude.
Inevitavelmente, no entanto, se as celebridades aos olhos do público, obtinham gravidezes muito tardias e supostamente “naturais”, isso alimentava expectativas irreais sobre os tratamentos de reprodução assistida e a própria gravidez espontânea em idades mais avançadas. A Internet trouxe luz às discussões sobre os tratamentos para engravidar. A natureza pessoal e dialógica das redes sociais oportunizou a abertura de espaços para discussão da infertilidade “sem freios”.
“A Internet está se firmando como uma ferramenta disseminadora de conhecimento, possibilitando a quebra de monopólio de conhecimento. A maior difusão da Internet nas residências certamente a transformará numa ferramenta importante para que as pessoas tenham maior controle sobre a própria saúde. E justamente por acreditarmos que partilhar a informação na Internet é um caminho sem volta, precisamos analisar com cuidado os anúncios dos tratamentos de infertilidade das celebridades”, afirma Amanda Volpato.
Celebridades x infertilidade
Chrissy Teigen, muitas vezes, discutiu o tratamento de fertilização in vitro que ela e seu marido, John Legend, fizeram para conceber seus dois filhos, Luna e Miles. Sarah Jessica Parker também foi honesta sobre a possibilidade de procurar um útero de substituição para aumentar sua família com o marido, Matthew Broderick. Algumas celebridades também estão tornando públicas as maneiras pelas quais planejam preservar a fertilidade. Rita Ora revelou, em 2017, que ela congelou seus óvulos para preservar a chance de ter filhos mais tarde.
“Em relação às declarações das celebridades sobre os tratamentos de infertilidade, o cuidado deve ser o mesmo adotado em qualquer tema de saúde. O paciente deve ter o seu médico como fonte segura de informação. Nem todas as informações estarão disponíveis sobre cada caso (como ovodoação, útero em substituição, número de tentativas até engravidar, perdas gestacionais, tempo de tratamento). Nem todas as celebridades revelam todos os detalhes ao público, mas o que é válido nessas declarações é a oportunidade de trazer o tema à tona”, defende a médica da Clínica Hope.