Crianças nascidas com o emprego das técnicas de reprodução assistida (TRA) não parecem estar em maior risco de desenvolver câncer do que outras crianças, de acordo com o primeiro estudo a analisar o risco de câncer, a longo prazo, em crianças concebidas por meio dessas tecnologias, em comparação com aquelas na população geral ou com as que foram naturalmente concebidas por mulheres subférteis (que levaram mais de um ano para engravidar).
O estudo, realizado com 47.690 crianças, publicado na revista Human Reproduction, é importante porque, até agora, são apontadas evidências científicas conflitantes sobre se as crianças nascidas por meio das técnicas de reprodução assistida têm um risco aumentado de câncer. As crianças deste estudo foram acompanhadas por uma média de 21 anos, o que faz com que seja o primeiro estudo a comparar os resultados nesse grupo, durante um período de tempo tão longo.
O estudo é especialmente importante porque inclui uma comparação entre um grupo de crianças naturalmente concebidas, nascidas de mulheres subférteis; essas mulheres são diferentes da população em geral e é possível que a dificuldade em conceber seja um fator que influencie o risco de câncer em seus filhos.
Segundo os autores do estudo, das 47.690 crianças incluídas na análise, 231 desenvolveram câncer. Após o ajuste para fatores que poderiam confundir os resultados, como idade e a causa parental de subfertilidade, o risco total a longo prazo para câncer não foi maior nas crianças concebidas por meio das técnicas de reprodução assistida em comparação com crianças naturalmente concebidas de mulheres subférteis, nem quando comparado com a população geral.
No entanto, o risco de câncer foi um pouco maior, embora não estatisticamente significativo, em crianças concebidas após a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) ou de tratamentos com embriões congelados. Os pesquisadores encontraram também um risco ligeiramente maior, mas estatisticamente não significante, de leucemia linfoblástica e melanoma.
Os pesquisadores analisaram dados de um grande estudo nacional de mulheres subférteis (o estudo OMEGA) que foram tratadas em uma das 12 clínicas holandesas de fertilidade entre 1980 e 2001. Eles também coletaram dados sobre a prole e as informações foram relacionadas aos dados sobre a incidência de câncer no Registro de Câncer da Holanda, entre janeiro de 1989 e novembro de 2016. Informações sobre o método de concepção e fatores de confusão, tais como a causa da subfertilidade dos pais, idade da mãe, ano de nascimento da criança, peso ao nascer, duração da gravidez, e se eram nascimentos únicos ou múltiplos, também foram coletadas dos questionários preenchidos e registros médicos das mães.
Das 47.690 crianças nascidas vivas, 24.269 foram concebidas por meio das técnicas de reprodução assistida, 13.761 foram concebidas naturalmente e 9.660 foram concebidas naturalmente ou com o auxílio de medicamentos para fertilidade, como a medicação para estimulação ovariana. Dos 231 casos de câncer ocorridos entre todas as crianças, havia 31 casos de leucemia linfoblástica e 26 casos de melanoma.
“Os resultados fornecem evidências tranquilizadoras de que crianças concebidas como resultado de tratamentos de reprodução assistida não têm um risco aumentado de câncer, após um acompanhamento médio de 21 anos. Esses dados permitem que os médicos orientem melhor os casais sobre a segurança dos procedimentos”, afirma a médica ginecologista e obstetra, especialista em Reprodução Assistida, Melissa Cavagnoli.
No entanto, como cada vez mais crianças nascem por meio da ICSI e da criopreservação de embriões, o risco de câncer, a longo prazo, deve ser investigado em um maior número de crianças nascidas como resultado dessas técnicas.