Durante o Congresso Anual da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, na Filadélfia, EUA, pesquisadores norte-americanos e egípcios apresentaram um estudo de coorte prospectivo, mostrando pela primeira vez que o letrozol, um inibidor da aromatase, é tão eficaz quanto o metotrexato como um tratamento médico para a gravidez ectópica.
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, em 2016, foram registradas mais de nove mil internações por causa da gravidez ectópica, quando a gestação ocorre fora do útero da mulher, ou seja, quando o óvulo fecundado se instala e se desenvolve fora da cavidade uterina. Estima-se que quase 1% da população feminina seja acometida pelo problema, que é preocupante e deve ser diagnosticado logo nos primeiros sintomas para preservar a saúde da mulher.
“Ao se confirmar uma gravidez ectópica, o tratamento pode seguir dois caminhos a depender do tamanho do saco gestacional. Na maioria dos casos, é realizado um procedimento cirúrgico via laparoscopia com o objetivo de remover o embrião e reparar a área danificada, sendo que durante a operação o cirurgião também avalia a situação da trompa afetada e decide se deve mantê-la. Há também a possibilidade de se realizar um tratamento clínico medicamentoso, para tentar promover uma reabsorção do embrião pelo organismo, desde que o saco gestacional esteja pequeno, com menos de 3,5 centímetros e o embrião esteja sem batimento cardíaco”, explica a ginecologista e obstetra Amanda Volpato, diretora da Clínica Hope.
O estudo americano
Quarenta e duas pacientes com gravidez ectópica foram orientadas sobre as opções de tratamento e divididas em três grupos de 14 pacientes cada: um grupo de tratamento cirúrgico (controle), um grupo de metotrexato (estudo) e um grupo de letrozol (estudo).
Em cada um dos grupos de estudo sobre medicamentos, 12 pacientes (86%) tiveram resolução completa da gravidez ectópica. Duas pacientes em cada grupo de estudo, no entanto, tiveram que voltar ou serem submetidas a cirurgia para resolver o quadro.
Os pesquisadores também mediram os efeitos metabólicos e hormonais dos dois medicamentos. O tratamento com metotrexato foi associado a níveis significativamente mais altos de enzimas hepáticas e níveis mais baixos de plaquetas. E perfis hormonais mais favoráveis foram observados nos pacientes que receberam letrozol. Os níveis do hormônio da gravidez, HCG, diminuíram mais rapidamente do que os níveis de HCG no grupo metotrexato. Três meses após o tratamento, os níveis de hormônio anti-Mülleriano foram mais baixos no grupo metotrexato do que no grupo letrozol ou cirurgia.
“O estudo, embora preliminar, mostra que o emprego do letrozol para o tratamento da gravidez ectópica é uma boa promessa. O metotrexato é uma alternativa médica à cirurgia há algum tempo. Mas como um medicamento quimioterápico antimetabolito e imunossupressor, ele vem com efeitos tóxicos que podem ameaçar a saúde da paciente e a fertilidade futura. Mais pesquisas são necessárias ainda para definir se o letrozol é uma alternativa segura e eficaz no tratamento da gravidez ectópica”, afirma a especialista em Reprodução Humana, Amanda Volpato.