Estudos sobre até que ponto as atitudes irrealistas sobre a fertilidade afetam a gravidez no futuro começam a ganhar corpo. Especialistas em reprodução humana concordam que algumas pessoas poderiam ser poupadas das dificuldades em engravidar e todo o desgaste emocional e financeiro dos tratamentos relacionados à infertilidade se soubessem mais sobre a idade na qual se torna significativamente mais difícil engravidar e dar à luz a um bebê saudável.
“Pesquisas apontam que os jovens não estão conscientes de que a fertilidade começa a declinar significativamente após uma certa idade, e também tendem a superestimar a eficácia dos tratamentos de fertilidade como a fertilização in vitro para ajudar os casais com dificuldades para engravidar”, afirma a ginecologista e obstetra, Melissa Cavagnoli, diretora da Clínica Hope.
Uma pesquisa com 1.215 estudantes universitários na Austrália confirma essa visão generalizada sobre as taxas de fertilidade e o sucesso da fertilização in vitro. 70% dos estudantes que disseram querer ter filhos concordaram que seria importante ter filhos antes de ficarem “velhos demais”, mas apenas 46% das mulheres e 38% dos homens sabiam que a fertilidade das mulheres começa a diminuir significativamente a partir dos 35 anos. Apenas 18% dos homens e 17% das mulheres sabiam que a fertilidade dos homens declina muito entre os 45-49 anos.
“Este desejo de ter filhos ‘no futuro’, juntamente com a falta de consciência sobre a faixa etária de declínio da fertilidade é preocupante. E esse não é um fardo exclusivamente das mulheres. É importante saber que há limites para a fertilidade masculina e feminina, então homens e mulheres devem ser igualmente informados”, defende a diretora da Clínica Hope.
A pesquisa destaca a necessidade de educar os jovens, não apenas as mulheres, sobre os limites da fertilidade feminina e masculina. A decisão de ter um filho geralmente é uma decisão conjunta, por isso todas as partes precisam estar bem informadas.
Fertilidade em declínio
Depois dos 35 anos, o risco de uma mulher perder a gravidez – uma indicação da qualidade e da quantidade de óvulos – aumenta acentuadamente. Dos 30 aos 34 anos, o risco de aborto é de cerca de 15%, enquanto o risco aos 35-39 anos salta para 25%. Aos 40 anos, 51% das gestações terminam em aborto espontâneo. Estes números são baseados em um estudo nacional com mais de 630.000 mulheres e seus 1,2 milhões de resultados na Dinamarca, entre 1978 a 1992.
Além de relatos de “surpresa” sobre a realidade do declínio da fertilidade, há dados que indicam que algumas mulheres sentem um pouco de pesar após terem sido confrontadas com a dificuldade de conceber depois de 35.
Outro estudo com 61 pacientes de clínicas de fertilidade que tiveram seu primeiro filho quando tinham mais de 40 anos encontrou resultados surpreendentes neste sentido. Quase metade das mulheres – 44% – relatou estar “chocada” ou “alarmada” ao descobrir que seu entendimento do efeito da idade no declínio da fertilidade estava errado, o que fez com que 72% delas se sentissem “sortudas” por terem “superado as probabilidades” com o nascimento bem sucedido de um filho. 23% das mulheres disseram que, se soubessem mais sobre o que influencia a queda da fertilidade, teriam tentado ter um bebê quando eram mais jovens.
“É preciso falar mais sobre fertilidade, precisamos de uma forma mais ampla de abordar o tema para traçarmos estratégias de planejamento familiar com segurança e tranquilidade”, defende Melissa Cavagnoli.